Celebrando 20 anos de doação de sangue. Leia a história de um doador de sangue, Mário Augusto Cabral, que salva vidas há 30 anos.
Bissau - "Uma vez estava a caminho do aeroporto num táxi e ouvi dizer que havia uma necessidade urgente de sangue para um doente no Hospital Simão Mendes... disse ao taxista, pára, pára!... vou salvar alguém..."
Mário Augusto Cabral (59 anos) é um conhecido doador de sangue na sua comunidade em Bissau, Guinea-Bissau. Começou a doar sangue aos 27 anos e conta que a primeira vez que deu sangue estava numa festa da universidade quando, de repente, ouviu choro e gritos lá fora. Foi então ver o que se passava. Na esquina da rua estava um homem muito doente e a mulher pedia ajuda. Mário ofereceu-se então para o levar ao hospital onde, após alguns exames, foi informado que o homem precisava de uma transfusão de sangue. Mário não sabia nada sobre a transfusão de sangue. Quando o médico lhe explicou o que era e que podia salvar a vida do homem, Mário não hesitou em doar sangue imediatamente e a partir daí, comprometeu-se a doar sangue sempre que pudesse. Conta também que uma vez quando se dirigia para o aeroporto, escutou na rádio que uma jovem doente precisava de sangue com urgência. Disse imediatamente ao taxista "pára, pára!... vou salvar alguém...". O taxista ficou, naturalmente, muito surpreendido, mas levou-o ao hospital.
Apesar dos esforços constantes para sensibilizar os seus amigos e familiares para doarem sangue, Mário diz que muitas pessoas da comunidade têm receio de doar sangue. Dizem que, se doarem sangue, podem morrer. Uma vez, depois de ter regressado da doação de sangue, os seus filhos foram ao seu quarto de manhã cedo para ver se ele ainda estava vivo... ele ri-se ligeiramente ao contar a história. Portanto, é importante realizar campanhas contínuas de sensibilização para educar as pessoas sobre o processo e os benefícios da doação de sangue.
Mário, que recebeu o certificado de mérito na categoria ‘Ouro’ no dia 14 de junho, durante o evento comemorativo do Dia Mundial do Doador de Sangue, tem vindo a doar sangue voluntariamente nos últimos 30 anos. Sendo doador do grupo sanguíneo O+, está verdadeiramente à altura do seu destino como doador universal. Mário não descansa de salvar vidas. Mesmo na sua casa, as pessoas passam por lá para perguntar se ele pode doar sangue a um familiar que precisa. Até recebe chamadas frequentes do banco de sangue e da Associação de Doadores de Sangue da Guiné-Bissau a perguntar se pode vir doar sangue.
No entanto, Mário lamenta que continue a ter de pagar as consultas médicas e que, por vezes, não haja um lanche depois da doação de sangue. Ele também paga muitas vezes do seu próprio bolso o transporte de e para o hospital ou banco de sangue. "O governo deveria valorizar e incentivar os doadores voluntários regulares de sangue"... acrescenta.
A transfusão de sangue desempenha um papel fundamental nos cuidados de saúde, beneficiando os doentes que necessitam de sangue e dos seus componentes e que enfrentam situações de risco de vida. Na Guiné-Bissau, a procura de sangue é constante, enquanto a oferta é muitas vezes insuficiente. De acordo com o relatório do banco de sangue do Hospital Nacional Simão Mendes (HSNM), hospital de referência, 80% das doações de sangue são de familiares e a maioria das doações é feita a pedido, deixando pouca ou nenhuma reserva.
Ao celebrarmos 20 anos de doações de sangue que salvam vidas, agradecemos ao Mário e a muitos outros doadores regulares de sangue por continuarem a salvar vidas!