Sobreviventes da Tempestade Chido: A reconstrução de Mecufi e das famílias afectadas

Sobreviventes da Tempestade Chido: A reconstrução de Mecufi e das famílias afectadas

Rosário Samuel, director do centro de saúde Mecufi Sede. Foto: Tiago Zenero/WHO Mozambique.
 

Na madrugada do dia 15 de dezembro de 2024, o norte de Moçambique foi afectado pelo ciclone Chido, que atingiu a Provincia de Cabo Delgado com a velocidade de 260 km/h. Dentre a destruição que o ciclone deixou na província estão 1505 casas e 16 unidades de saúde. Uma das unidades danificados foi a unidade sanitária de Mecufi Sede. A estrutura foi completamente danificada, equipamentos médicos e cirúrgicos avariados e materiais diversos como camas, roupa hospitalar, livros e outros instrumentos e aparelhos de auxílio de diagnóstico destruídos. 

O diretor desse centro, Rosário Samuel, não sabe quando poderá voltar a utilizar a Unidade para cuidar dos pacientes. “Estamos agora fazendo a limpeza do que restou da unidade sanitária e tentando oferecer os serviços mínimos de banco de socorros, consultas e enfermaria em casos de doenças que requerem internamento”, ele conta. 

A população está engajada em reconstruir as casas e edifícios que vieram ao chão. Porém, algo que não poderá ser reconstruído são as famílias que foram diretamente afectadas. O ciclone atingiu mais de 620 mil pessoas nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa, dessas, pelo menos 768 foram feridas e 94 perderam a vida. Dentre esses números, está também o diretor Rosário. 

Ao final do dia, ao deixar o centro de saúde, ele deixa lá também a função de diretor para voltar a enfrentar a realidade de mais um morador de Mecufi que teve sua casa destruída. “Minha casa foi afectada totalmente, não aproveitamos nada, mas saí com os meus filhos ilesos”, comenta. 

Quando ele relata o que aconteceu, ao tentar acessar a memória do dia do ciclone, as palavras falham e a emoção toma conta, mas ele continua a descrever: “No momento [do ciclone], estava toda a família em casa. Eu senti muito pavor. Não… não foi pavor, foi medo. Mas o desespero é que foi a primeira coisa. É, foi desespero mesmo... Tem um momento que não sabes mais o que fazer e tudo que dá para fazer é rezar. Eu rezei. E conseguimos sobreviver. Sobrevivemos... Todo mundo! Sem lesões!” 

As lesões podem não ser aparentes, mas vêm com a lágrima que escorre do seu rosto ao terminar de descrever a situação. Porém, o Rosário vítima do ciclone logo dá lugar ao Rosário diretor de centro de saúde. Assim, ele volta a elogiar o trabalho realizado pela OMS, que montou duas tendas para atendimento em substituição do centro de saúde, que está operando como enfermaria e atendimento de urgência. 

“Como eu sou responsável pela unidade sanitária, muito tempo eu fico aqui, eu quero priorizar aqui, antes mesmo da minha casa. Precisamos reconstruir isso pela população”, ele afirma e acrescenta uma mensagem importante: “Temos agora que nos precavermos, principalmente com o consumo de água tratada. Depois de ter vindo o ciclone, podem aparecer doenças diarreicas, se isso acontecer, é preciso correr para a unidade sanitária, pois contamos com as tendas da OMS, que são essenciais nesse momento”.  

Rosário ainda acredita que levará tempo para recuperar Mecufi, pois, segundo ele, não existe mais nada na comunidade, tudo foi devastado, “mas pelo menos as casas e unidades de saúde conseguimos recuperar, mas as famílias perdidas, o dano psicológico….” 

Sem terminar a frase, ele logo acrescenta: “O nosso maior valor é a vida, não podemos deixar as pessoas sem o mínimo que é a saúde, depois cuidamos dos nossos cuidados pessoais”. Assim ele termina mais um dia de trabalho na comunidade, deixa de ser diretor e volta para a família, mas a rotina ainda será muito diferente. “Vou para casa agora, quer dizer… vou ver para onde posso ir agora”. 

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