Sobreviventes da Tempestade: A Assistência da OMS em Meio à Tragédia do Ciclone Chido

Sobreviventes da Tempestade: A Assistência da OMS em Meio à Tragédia do Ciclone Chido

Rafael Daniel precisou de atendimento médico após o ciclone Chido passar pelo distrito de Mecufi. Para isso, utilizou os serviços em uma das tentas montadas pela OMS. Foto: Tiago Zenero/WHO Mozambique.
 

“Meu filho teve um ferimento na cabeça, mas essa enfermeira cuidou bem dele. Logo você também já está melhor!”, comenta Rafael Daniel para o menino que está em atendimento em uma das tendas da OMS em Mecufi, Cabo Delgado, tratando de um ferimento causado pelo ciclone Chido. Enquanto isso, ele caminha mancando mais para perto da maca, olhando com interesse para a ferida do garoto agora já coberta com uma gaze. 

“Meu filho tem a sua idade mais ou menos, o mais novo”, ele continua. A criança olha para ele, sorri com vergonha e logo olha para a mãe que estava do outro lado da cama assistindo tudo. Ele é liberado pela enfermeira, o menino e sua mãe, irmã de Zinha (leia a história de Zinha aqui), se juntam ao restante da família para saírem da tenda. Rafael levanta a mão para o garoto, que entende o gesto e retribui, mas sai em silêncio. 

Ao sentar-se para atendimento, logo ele mostra a perna para a enfermeira, que ainda estava higienizando a mão e os demais equipamentos que utilizara para atender o menino. “Eu tinha uma ferida pequena, quando apareceu esse ciclone, como as nossas casas são precárias, caiu e raspou por cima. Aí a ferida aumentou”, ele começa a contar e, enquanto a enfermeira coloca novas luvas cirúrgicas, ele continua “ela foi toda danificada, não dá para aproveitar nada. Meus filhos, são quatro, tiveram ferimentos na cabeça, mas estão bem”. 

Além das tendas, a OMS  deslocou seu pessoal de Maputo e de Pemba para dar apoio ao Ministério da Saúde (MISAU), acompanhando a situação de Mecufi e de outros distritos afectados em Cabo Delgado e em Nampula. 

“Esse atendimento na tenda da OMS é muito bom, porque a maioria da população precisava desse serviço”, comenta Rafael enquanto olha ao redor, analisando a infraestrutura montada. “O que precisamos agora é reconstruir os hospitais, colocar mais medicamentos para o bem da população”. 

A enfermeira puxa a faixa para conseguir fazer um nó e deixar o ferimento bem protegido. Enquanto continua a falar, Rafael solta um pequeno grito de dor e susto ao mesmo tempo. Olha para a perna enfaixada, elogia o trabalho feito pela enfermeira e continua: “Tem que melhorar as vias de acesso também, para que os meios de transporte, os carros possam entrar e nos ajudar, temos que voltar a ter acesso ao telefone, aos serviços de banco, eles não podem chegar aqui sem as vias reconstruídas”. 

Ela libera o paciente, que se levanta analisando ainda a perna e colocando-a no chão com cuidado, tentando dar o primeiro passo sem mancar, mas a dor ainda está grande e ele não consegue, volta a apoiar-se no outro pé e sai mancando da tenda. 

Antes de ir embora ele se vira e diz: “Obrigado! Espero que tenha mais gente como a senhora para cuidar aqui de nós. E também que tenha mais organizações igual a OMS, olha só, isso é ó básico, sem essa tenda aqui, muita gente já tinha morrido, continuem a ajudar, é muito importante o trabalho de vocês!” 

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