Sobreviventes da Tempestade: A história de Zinha Mantel no Ciclone Chido

Sobreviventes da Tempestade: A história de Zinha Mantel no Ciclone Chido

Zinha Mantel e seu filho tiveram atendimento médico na tenda montada pela OMS em Mecufi. Foto: Tiago Zenero/WHO Mozambique.
 

“Começou com um vento muito forte, depois veio a chuva. O vento estava tão forte que podíamos ouvir o som bem alto. Ouvimos também o som de que ele vinha para destruir”. Assim que Zinha Mantel, moradora do distrito de Mecufi, em Cabo Delgado, descreve o momento em que o ciclone Chido passou pela região onde ela estava.  

Avisada já sobre as proporções que o ciclone teria, ela preferiu sair de casa e procurar abrigo em um lugar mais seguro, foi então que se refugiou com o filho, a irmã e o sobrinho na casa de uma prima. “O local era muito pequeno e pensamos que seria mais resistente, mas quando veio o ciclone, ele também não suportou a força e desabou. Ficamos todos presos lá dentro”, conta Zinha mostrando os machucados nos braços do filho e do sobrinho. 

Ao ficarem embaixo dos escombros, ela perdeu a noção do tempo, não se recorda se foram minutos ou horas. Os movimentos estavam limitados e a água da chuva deixava todos encharcados. Pelo choro das crianças, sabia que eles ainda estavam vivos, o que a dava forças para continuar acreditando que o resgate viria. 

Estava escuro. 

Estava frio. 

O barulho do vento forte ia passando aos poucos. 

O barulho da chuva aumentava. 

O choro das crianças silenciou. 

Zinha já estava muito cansada e fraca para pensar no pior, estava apenas resistindo, e com a esperança de que a ajuda ainda viesse. 

Quando a chuva foi ficando mais fraca, ela escutou vozes. Logo em seguida, sua irmã gritou. Era a primeira vez que ouvia a voz da irmã desde que a casa havia desabado. Ela sorriu no meio da escuridão por ter a certeza de que a irmã também estava viva. Logo pôde ouvir um barulho muito forte, estavam quebrando as paredes. 

De repente, uma luz nos seus olhos já acostumados com a escuridão, foi o incômodo mais desejável daquela noite. Finalmente os membros da comunidade os encontraram. Fizeram um buraco nos escombros e tiraram todos de lá vivos, com ferimentos leves. 

“Hoje fomos ao hospital para ter atendimento e estava tudo destruído, ficamos muito preocupados que não teríamos os cuidados necessários, principalmente para as crianças. Então viemos na tenda da OMS e fomos muito bem atendidos aqui”, conta Zinha.  

A OMS apoia a população de Cabo Delgado na resposta emergencial ao ciclone. Em Mecufi, foi montada uma tenda para que o pessoal de saúde possa continuar a realizar os serviços essenciais em um lugar adequado, já que o centro de saúde ficou totalmente destruído durante o ciclone. 

Depois do atendimento, ela ainda pensa como serão os próximos dias: “Eu estou desesperada agora, porque não temos comida, não sabemos onde vamos morar, o que vamos comer ou como serão as nossas condições de saúde”. 

Assim como a casa pequena da prima onde ela se abrigava durante o ciclone, sua residência foi completamente destruída. Zinha conta que conseguiu armar uma tenda de lona no local, onde está dormindo com a filha, a irmã e o sobrinho. 

“Meu maior sonho hoje é conseguir uma tenda boa para me abrigar, pois as condições do lugar onde estou são muito precárias, é desconfortável”, ela conta. “Mas pelo menos se eu ficar doente, já sei que posso vir aqui”, diz sorrindo e tentando encontrar um pouco de alívio dentro de tanto sofrimento. Com o sorriso no rosto, ela sai da tenda e caminha de volta para o seu abrigo. 


 

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