Relatório Nacional de Prevalência e Factores de Risco para as Doenças Crónicas não Transmissíveis na População Moçambicana em 2024
O Inquérito Nacional de Prevalência e Factores de Risco Doenças Crónicas Não Transmissíveis foi implementado pelo Instituto Nacional de Saúde, em colaboração com o Ministério da Saúde, o Instituto Nacional de Estatística e a Organização Mundial de Saúde, e teve o apoio financeiro do Alto Comissariado do Canadá. O inquérito foi realizado cumprindo todos os requisitos de qualidade exigidos pela Organização Mundial da Saúde e utilizando sistemas de monitoria e gestão de dados que permitiram garantia de qualidade de dados para inferência na população.
A metodologia padrão do STEPS definida pela OMS foi enriquecida com informação sociodemográfica e económica dos agregados familiares, módulos opcionais e versões alargadas de módulos anteriormente usados. As equipas de campo incluíram pesquisadores com experiência em trabalho epidemiológico e laboratorial, e profissionais de saúde que foram utilizados para a obtenção de medidas físicas. A amostra foi obtida por um processo de amostragem por conglomerados com representatividade nacional e provincial. Foram incluídos 126 distritos das 11 províncias do país. Após listagem de agregados familiares das zonas selecionadas, foram identificados indivíduos adultos entre 18 e 69 anos pertencentes ao agregado familiar, e feita a selecção aleatória de um adulto a ser incluído no estudo, usando um algoritmo integrado no aplicativo STEPS. A versão adaptada em português do questionário STEPS foi usada para recolha de dados usando tablets que permitiram recolha de dados sem acesso imediato à internet. Uma equipa de especialistas orientou a testagem do questionário, treino de inquiridores, ea controlo de qualidade ao longo do trabalho de campo. Em preparação para a análise de dados foi feita ponderação por província. A análise de dados seguiu a metodologia descritiva padronizada para os inquéritos STEPS. A taxa de resposta ao inquérito foi de 83,6% da amostra planificada. Dos 4.821 indivíduos selecionados nos agregados familiares, 4.784 foram considerados elegíveis e 4.764 incluídos na análise.
Os resultados do inquérito mostram prevalência importante dos factores de risco cardiometabólicos: obesidade (11,2%), sedentarismo (56,5%), abuso de álcool 9,8%), hipertensão arterial (25,3%), hipercolesterolemia (12,2%). A percentagem de pessoas que adicional sal frequentemente ante das refeição foi de 21,2%, e a que consome comida processada salgada diariamente ou muito frequentemente foi 6,8%. Foi encontrada prevalência de uso de tabaco de 8,5% e a idade de início do hábito tabágico foi 23 anos. A proporção de mulheres 40-49 anos que alguma vez realizou rastreio de cancro do colo do útero foi de 29,9%. Em relação ao trauma não intencional, 5,1% dos adultos moçambicanos estiveram alguma vez envolvidos em acidentes de viação, e as principais causas de trauma não associado a acidente de viação foram feridas cortantes e quedas. A prevalência de tentativa de suicídio, depressão e asma foi 5,2%, 6,2% e 6,8%, respectivamente. Por fim, a sub-análise da população dos 25 aos 64 anos mostrou tendência crescente para todos os factores de risco cardio-metabolicos, excepto o uso de tabaco.
Em conclusão, o inquérito indica a urgência de tomada de medidas de saúde colectiva e intervenções multissectoriais para enfrentar o sedentarismo, uso abusivo do álcool e uso excessivo de sal. Permite ainda aferir sobre o efeito das políticas de prevenção do uso do tabaco, único factor de risco mostrando tendência decrescente.