Mauritânia: tabagismo em declínio com a aplicação de uma lei
Nouakchott – Ifrah, 36 anos, fumava desde os 13 anos de idade. Nunca pensou que um dia poderia deixar de fumar. Entrou no círculo vicioso do tabagismo ao imitar adultos consumidores de tabaco em Cansado, o bairro onde cresceu em Nouadhibou, Mauritânia . “Para mim, fumar significava ser ousado e maduro. Mas era apenas uma ilusão.”
Com o tempo, Ifrah apercebeu-se de que o tabaco, de que tanto gostava, tem efeitos nefastos na sua saúde. “Sabia que o tabaco era mau para mim porque tinha dificuldades em respirar e também tinha falta de ar. Tentei deixar várias vezes. Conseguia parar durante algumas horas, mas o desejo de fumar voltava. Ficava ansioso e irritado, e depois voltaba a fumar”
A prevalência do tabagismo está a recuar na Mauritânia. O consumo de tabaco no país diminuiu para 10% em 2021, por comparação com 18% em 2012, o que representa uma redução de 8 pontos percentuais em 10 anos. Esta é uma das conclusões do inquérito mundial sobre o tabagismo na população adulta, realizado em 2021.
Segundo o inquérito STEPS 2008, na Mauritânia, 22,6% dos adolescentes entre os 13 e os 15 anos consumiam tabaco e os produtos do tabaco eram vendidos em todo o lado e podiam ser comprados por qualquer pessoa, incluindo crianças pequenas.
A fim de reduzir esta prevalência e proteger as crianças do tabagismo, o país adoptou, em 2018, uma lei antitabaco com especial ênfase nas embalagens dos produtos. Em conformidade com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a lei estipula, nomeadamente, que todos os produtos do tabaco à venda no território da Mauritânia devem incluir uma advertência de saúde que cubra pelo menos 70% da superfície de ambos os lados da embalagem.
Ao adoptar tal legislação, as autoridades mauritanas querem sensibilizar o público, em especial os jovens, para os perigos do tabagismo, que é a principal causa de morte e de doenças não transmissíveis, como a diabetes, o cancro, as doenças cardiovasculares e as doenças pulmonares crónicas, no país.
“Constatámos que a lei tem desempenhado um papel importante na luta contra o tabagismo no nosso país”, afirma o Dr. Abdallah Bouhabib, Vice-director Geral da saúde pública no Ministério da Saúde da Mauritânia. “As advertências de saúde nas embalagens dos produtos do tabaco, em especial as que combinam textos e imagens, foram uma das formas mais rentáveis e eficazes de sensibilizar o público para os graves riscos de saúde associados ao tabagismo.”
Com a aplicação das novas medidas, alguns consumidores apercebem-se da dimensão dos riscos e decidem deixar de fumar. Depois de ver uma advertência gráfica num dos maços de cigarros que tinha acabado de comprar, fez-se luz e Ifrah nunca mais olhou para trás. “Vi uma imagem chocante. Senti um aperto no peito e vieram-me à ideia imagens negras de doenças e mortes. Foi nesse dia que decidi parar”, refere o jovem. “Curiosamente, muitos dos meus amigos tiveram a mesma sensação e no nosso grupo todos deixámos de fumar.”
O inquérito sublinha que, com a aplicação da lei, cerca de 25% dos fumadores na Mauritânia aperceberam-se pela primeira vez das advertências de saúde nos maços de cigarros, enquanto 14% dos fumadores consideraram a possibilidade de deixar de fumar devido aos rótulos de advertência.
“Deixei de fumar quando tomei consciência das consequências negativas para a minha saúde. Não foi fácil, mas a minha decisão de deixar de fumar foi irreversível”, afirma Ahmad Ahki, 41 anos, que foi dependente do tabaco durante mais de 10 anos. “Fui apoiado por toda a comunidade. Acredito que foi isso que me permitiu manter a sanidade mental e renunciar definitivamente ao tabaco.”
Os resultados do inquérito mundial sobre o tabagismo indicam que cerca de 34% dos mauritanos continuam expostos ao fumo do tabaco no local de trabalho e que o consumo de tabaco entre homens é quase oito vezes superior ao das mulheres.
Para a OMS, o tabagismo é uma epidemia que exige uma resposta eficaz. “A adopção desta lei é positiva porque contribuiu para reduzir a prevalência do tabagismo na Mauritânia. Devemos reforçar estas conquistas com uma abordagem social e sanitária a fim de mudar as mentalidades e desmistificar as ideias falsas que rodeiam o consumo do tabaco, sobretudo entre os jovens e os adolescentes”, declarou a Dr.a Charlotte Faty Ndiaye, representante da OMS na Mauritânia. “As disparidades entre os géneros e a elevada taxa de exposição no local de trabalho, evidenciadas pelos inquéritos, realçam a necessidade urgente de levar a cabo campanhas de saúde robustas.”
Com o apoio da OMS, o Ministério da Saúde sensibilizou 15 governadores regionais para a luta contra o tabaco. Além disso, foi dada formação a pontos focais que depois foram afectos aos departamentos governamentais e regionais. Estes pontos focais asseguram a sensibilização e a mobilização dos líderes comunitários, incluindo os líderes religiosos, para as actividades de luta contra o tabaco.
Além da legislação, o país está a implementar outras iniciativas de luta contra o tabagismo, tais como campanhas de sensibilização sobre os perigos do consumo de tabaco, a proibição de fumar em locais públicos e a introdução de um imposto sobre o tabaco. Uma parte deste imposto é utilizada na luta contra as doenças relacionadas com o tabagismo.
“Parar de fumar foi a melhor decisão que tomei para a minha saúde e estou bastante orgulhoso”, congratula-se Ifrah. “Renunciar ao tabaco é difícil, mas não é impossível. Com vontade e determinação, é possível.”
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