Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África
No dia 31 de Agosto, celebramos o Dia da Medicina Tradicional Africana para promover o importante papel que a rica biodiversidade de plantas e ervas medicinais desempenha na melhoria do bem-estar no continente.
Durante gerações, a grande maioria da população no continente dependia da medicina tradicional enquanto principal fonte para a satisfação das suas necessidades de cuidados de saúde, por ser de confiança, aceitável, comportável e acessível.
Agora, estamos a assistir a emergência de novas e promissoras terapias de medicina tradicional no âmbito da resposta à COVID-19. Nos Camarões, por exemplo, o Ministério da Saúde aprovou dois produtos como terapêuticas complementares para a COVID-19. O COVID-Organics Plus Curative, remédio à base de plantas elaborado em Madagáscar, está actualmente a ser submetido a ensaios de fase III e foram apresentados resultados preliminares encorajadores. Aguardamos com expectativa os resultados finais deste ensaio, bem como de outros ensaios para diferentes produtos em desenvolvimento em 12 outros países africanos, incluindo a África do Sul, a Nigéria, a República Democrática do Congo e o Uganda.
Com o apoio das autoridades nacionais e distritais, os praticantes de medicina tradicional também estão a liderar a taxa de adesão às medidas de prevenção da COVID-19 e a encaminhar os doentes para cuidados atempados. Esta iniciativa contribui para o reforço da confiança nos sistemas de saúde em toda a África.
Nos níveis mais elevados, a pandemia permitiu aumentar a sensibilização para o valor da medicina tradicional. Um maior investimento na investigação e no desenvolvimento permitirá aproveitar as soluções desenvolvidas a nível nacional para melhorar o bem-estar no continente, e noutras partes do mundo.
Os remédios naturais estão a crescer em popularidade nos países ocidentais e têm uma longa história na China, na Índia e noutros locais. As grandes empresas farmacêuticas também viraram as suas atenções para a África onde esperam encontrar novos princípios activos. Com as parcerias e investimentos adequados, os medicamentos tradicionais africanos já testados e experimentados poderiam encontrar um vasto mercado mundial.
A OMS e outras organizações multilaterais estão a desempenhar um papel fundamental no apoio ao reforço das capacidades no sector da medicina tradicional, incluindo o desenvolvimento da produção local.
Recentemente, analisámos os progressos alcançados na Segunda Década da Medicina Tradicional Africana, de 2011 a 2020, e na implementação da Estratégia Regional para Reforçar o Papel da Medicina Tradicional nos Sistemas de Saúde 2013–2023.
A nossa avaliação mostra que 40 países africanos dispõem agora de quadros políticos para a medicina tradicional, em comparação com apenas oito países em 2000. As comunidades foram mobilizadas para participar na sensibilização para o valor da medicina tradicional. As capacidades dos investigadores, dos praticantes de medicina tradicional e das autoridades reguladoras nacionais foram reforçadas por meio de formações em parceria com a OMS, o CDC de África e a Parceria entre a Europa e os Países em Desenvolvimento para a Realização de Ensaios Clínicos. Estão também a ser envidados esforços para conservar as plantas medicinais de modo a assegurar a disponibilidade e abundância de matérias-primas de qualidade.
No ano passado, a OMS, a Comissão da União Africana e o CDC de África lançaram conjuntamente a Comissão Consultiva Regional de Peritos sobre Medicina Tradicional para a Resposta à COVID-19. Esta Comissão está a acelerar o ritmo da investigação ao apoiar os países na colaboração em ensaios clínicos de medicamentos tradicionais, em conformidade com as normas internacionais.
Será necessário mais trabalho para integrar a medicina tradicional nos sistemas de saúde ortodoxos e para consolidar as parcerias e mobilizar recursos, especialmente para a investigação e o desenvolvimento.
É com isto em mente que, no Dia da Medicina Tradicional Africana exorto os governos, as instituições de investigação, os praticantes e o sector privado a reforçarem a colaboração em torno da investigação e da produção de medicina tradicional.
Trabalhemos em conjunto para identificar e expandir o acesso a medicamentos tradicionais seguros, eficazes e de qualidade para melhorar o bem-estar e salvar vidas.
Saiba mais:
Relatório sobre os progressos realizados na implementação da estratégia regional para reforçar o papel da medicina tradicional nos sistemas de saúde, 2013–2023
Traditional and Complementary Medicine in Global Health Care. Em: Handbook of Global Health
WHO Global Report on Traditional and Complementary Medicine, 2019.
Towards universal health coverage: advancing the development and use of traditional medicines in Africa.
Guidelines on registration of traditional medicines, WHO, 2004 Reprinted in 2010.