Dia Internacional do Enfermeiro 2022

Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África

O Dia Internacional do Enfermeiro, celebrado anualmente a 12 de Maio em memória do nascimento de Florence Nightingale, a fundadora da enfermagem moderna, oferece a possibilidade de homenagear os enfermeiros como recurso inestimável e sensibilizar para os desafios que estes profissionais de saúde enfrentam.


Uma vez mais, assinalamos o evento de hoje no contexto da emergência sanitária mundial provocada pela COVID-19, que pôs em evidência a magnitude da escassez que se verifica na enfermagem em África e a nível mundial. O tema escolhido para este ano, “Enfermagem: uma voz para liderar – Investimento na enfermagem e respeito dos direitos de garantir uma saúde mundial,” não poderia ser mais adequado.


Ao longo da pandemia, os enfermeiros fizeram grandes sacrifícios, agiram corajosamente e reafirmaram todos os dias a sua vontade de lutar contra uma ameaça sanitária mundial sem precedentes nos tempos modernos, agindo como um pilar indispensável no apoio aos sistemas de cuidados de saúde africanos durante períodos bastante difíceis.


Agradecemos e celebramos sinceramente todos os enfermeiros na Região Africana pela sua dedicação inabalável na luta contra a pandemia de COVID-19.
Há muito que a Região Africana da OMS se vê confrontada com uma grave escassez de enfermeiros que, se não for colmatada, poderá constituir uma grande ameaça aos progressos realizados para alcançar uma cobertura universal de saúde.

De acordo com as últimas estimativas, os nossos 47 Estados-Membros dispõem de 1,6 milhões de parteiras e enfermeiros, 66% dos quais se encontram concentrados em seis países: África do Sul, Argélia, Etiópia, Gana, Nigéria e República Democrática do Congo. A Nigéria detém a percentagem mais elevada de enfermeiros com 21%, seguida da África do Sul com 18%.


O mundo precisa de mais nove milhões de enfermeiros e parteiras para atingir, até 2030, as metas do objectivo de desenvolvimento sustentável relacionado com a saúde. Segundo a análise realizada pela OMS em África, um limiar de cerca de 60 enfermeiros e parteiras por 10 000 habitantes é considerado um ponto crucial para alcançar, pelo menos, 70% do índice de serviços relativos à cobertura universal de saúde. Actualmente, a maioria dos países tem menos de 20 enfermeiros e parteiras por 10 000 habitantes, e em muitos países do continente esse valor é ainda mais baixo.


Os enfermeiros desempenham um papel fundamental na prestação de cuidados de saúde primários, sendo estes muitas vezes os primeiros – e únicos – profissionais de saúde que um doente verá. Contribuem para a investigação, a prevenção de doenças, o tratamento de pessoas feridas, a administração de cuidados paliativos, e para muitas outras tarefas. São os verdadeiros heróis de que ninguém fala, apesar de estarem na linha de frente da prevenção de doenças e de cuidados aos doentes.


Está mais do que estabelecido que o investimento em enfermeiros e parteiras oferece uma boa relação custo-benefício. De acordo com a Comissão de Alto Nível das Nações Unidas sobre o Emprego na Saúde e o Crescimento Económico, os investimentos na educação e na criação de emprego nos sectores da saúde e social oferecem o triplo do retorno, garantindo melhores resultados na saúde, na segurança sanitária mundial e no crescimento económico inclusivo.


Ao realçarmos o verdadeiro valor dos nossos enfermeiros e o papel central que devem desempenhar para influenciar a mudança, estaremos a transformar o futuro dos cuidados de saúde em África. A OMS em África presta apoio aos Estados-Membros no reforço dos cuidados de enfermagem e obstetrícia através da implementação das Orientações Estratégicas Mundiais para a Enfermagem e Obstetrícia 2021-2025, e de um conjunto de prioridades políticas interrelacionadas para orientar o papel desempenhado pelos enfermeiros e pelas parteiras na consecução da cobertura universal de saúde e de outros objectivos relacionados com a saúde das populações.


Nos nossos esforços contínuos para dar voz aos enfermeiros, a OMS criou a rede virtual Nursing and Midwifery Global Community of Practice (Comunidade de prática mundial para enfermeiros e parteiras), um fórum onde enfermeiros e parteiras de todo o mundo podem colaborar entre eles, bem como com a OMS e outras partes interessadas importantes.


Neste Dia Internacional do Enfermeiro, gostaria de apelar aos governos africanos para que façam os investimentos necessários para melhorar a atractividade da profissão de enfermeiro. Para tal, os governos devem fornecer aos enfermeiros equipamento adequado, melhores condições de trabalho, formação adequada, oportunidades de melhorar as suas competências e saídas profissionais.


A liderança na área da enfermagem também precisa de ser optimizada. Os chefes dos serviços de enfermagem e obstetrícia devem ter um mandato que lhes permita promover a enfermagem na área da educação, do emprego, da política e da prática.


Cerca de 80% dos cuidados de saúde primários podem ser prestados por enfermeiros e a pandemia de COVID-19 serviu certamente de plataforma importante para reiterar até que ponto os enfermeiros são parte integrante da equação que permite manter a prestação de cuidados de saúde de rotina, mesmo durante a resposta a uma crise mundial.


O argumento para investir na formação, no emprego e na liderança em enfermagem é claro, e chegou o momento de se comprometer a agir.
 

Para saber mais:

Dia Internacional do Enfermeiro 2022

Ficha informativa da OMS: enfermagem e obstetrícia

State of the world's nursing 2020: investing in education, jobs and leadership

 Global Strategic Directions on Nursing and Midwifery 2021–2025

Nursing and Midwifery Global Community of Practice

Three-year regional prototype pre-service competency-based nursing curriculum (Escritório Regional da OMS para a África, 2016)

The regional professional regulatory framework for nursing and midwifery: creating a common approach to regulation, educational preparation and practice: future direction for nursing & midwifery development in the African region (Escritório Regional da OMS para a África, 2016)

The State of Health Workforce in Africa (Escritório Regional da OMS para a África, 2021)