Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África
O Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado a 10 de Outubro, oferece a oportunidade de chamar a atenção para um aspecto muitas vezes descurado e negligenciado do nosso bem-estar.
Depois de quase dois anos a viver num contexto de pandemia causada pela COVID-19, muitas pessoas sofrem de ansiedade ou depressão e sentem-se isoladas. O Dia Mundial da Saúde Mental dá-nos a oportunidade de reflectir sobre a forma como podemos melhorar a nossa própria saúde e ir ao encontro dos outros para lhes perguntar como se sentem.
O tema deste ano, “Fazemos da saúde mental uma realidade para todos”, visa chamar a atenção para o facto de haver demasiadas pessoas na Região Africana e além que não têm acesso a cuidados para problemas de saúde mental.
Em geral, os países investem muito pouco na saúde mental, o que torna incrivelmente difícil garantir o acesso aos cuidados. Foram feitos poucos progressos em termos das despesas publicas alocadas à saúde mental, que continuam inferiores a 1 dólar americano por pessoa na maioria dos países da Região. Isto significa, muitas vezes, que a maior parte dos custos associados aos cuidados de saúde mental são suportados pelos agregados familiares e pelas famílias, ou que as pessoas não conseguem ter acesso aos cuidados de que necessitam. A análise sugere que os países com baixos rendimentos têm de gastar um mínimo de dois dólares por pessoa na saúde mental – e os países com rendimentos médios devem, no mínimo, desembolsar o dobro – para que haja níveis aceitáveis de acesso e cobertura para as pessoas que vivem com esses problemas de saúde.
Outro desafio reside no facto de mais de 80% dos escassos recursos disponíveis serem destinados a grandes instituições psiquiátricas nas grandes cidades. Menos de 15% desses recursos são gastos em serviços de saúde mental prestados nas comunidades ou nas unidades de cuidados de saúde primários.
Trata-se de uma oportunidade perdida. A maioria dos recursos para a saúde mental deve ser canalizada para os cuidados de saúde primários e programas comunitários, de modo a promover a reintegração dos doentes de “longa duração” na sociedade e prestar apoio aos cuidadores, para que estes possam apoiar melhor as pessoas com problemas de saúde mental.
Infelizmente, a maioria das pessoas com problemas de saúde mental não tem acesso a cuidados de qualidade. Existem menos de dois profissionais de saúde mental por cada 100 000 habitantes na Região Africana, comparado com uma média mundial de 13. Olhando apenas para os psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais, constatamos que há menos de um especialista por milhão de pessoas. Existe, portanto, uma grande escassez de especialistas para prestar cuidados especializados.
Nos últimos dados recolhidos pela OMS em 2019, apenas 10 países africanos partilharam informações sobre a cobertura do tratamento da psicose, uma perturbação mental grave. Esses dados indicaram que 9 em cada 10 pessoas com psicose não têm acesso aos cuidados adequados.
A OMS está a colaborar com os países para desenvolver estratégias destinadas a alargar o acesso a cuidados especializados e a dar formação aos profissionais de cuidados de saúde primários, por forma a tornar os cuidados de saúde mental mais acessíveis às comunidades.
Estamos também a prestar apoio em regiões afectadas por crises prolongadas, como no nordeste da Nigéria e no Sudão do Sul, onde estão a ser implementados conjuntos mínimos de serviços de saúde mental e apoio psicossocial, em parceria com a UNICEF. Em Tigray, na Etiópia, está a ser ministrada formação em saúde mental e apoio psicossocial aos profissionais de cuidados de saúde primários. Em parceria com a UNICEF e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, está prevista a formação de professores para que possam prestar apoio psicossocial a crianças que vivem em zonas de conflito.
Serão necessárias medidas globais para garantir que as pessoas têm acesso a cuidados de saúde mental, independentemente da região onde vivem, do nível de rendimento, da idade, da etnia ou de outros factores, e para dar resposta às causas subjacentes às doenças mentais. Essas causas assumem diversas formas (trauma, solidão, pobreza e perda de emprego) e devem ser alvo de intervenções que visam melhorar as condições em que as pessoas vivem, trabalham, brincam e envelhecem.
É com isto em mente que, neste Dia Mundial da Saúde Mental, exorto os governos a investirem nos determinantes sociais da saúde mental e a trabalharem com os grupos da sociedade civil e o sector privado no sentido de reforçarem os serviços de saúde mental nas comunidades.
Apelo a todos para que falem sobre problemas de saúde mental e partilhem boas práticas, como socializar, ter uma boa noite de sono, fazer refeições saudáveis e definir objectivos diários. Juntos podemos progredir para um mundo onde uma boa saúde mental está ao alcance de todos.
Saiba mais:
- World Mental Health Day 2021: Mental health care for all let’s make it a reality
- WHO’s Comprehensive Mental Health Action Plan 2013–2030
- WHO Mental Health Atlas 2017
- Investing in Mental Health in Low-Income Countries, ODI Insights, 2016
- Addressing the burden of mental, neurological, and substance use disorders: key messages from Disease Control Priorities, 3rd edition - The Lancet