Dia Mundial da Saúde Oral 2023

Mensagem da Directora Regional da OMS para a África, Dr.ª Matshidiso Moeti

A saúde oral é o alicerce da nossa vida. Permite-nos desempenhar funções essenciais e afecta a nossa autoconfiança, bem-estar e capacidade de socializar e trabalhar sem dor, desconforto e constrangimento, desde o início da vida até à velhice. 

Contudo, as patologias orais, como as cáries dentárias, as doenças das gengivas e as perdas de dentes, são as mais generalizadas a nível regional e mundial apesar de a maioria das doenças orais ser evitável. Em 2019, estima-se que as doenças orais afectaram cerca de 43,7% da população na Região Africana da OMS.

O fardo das patologias orais tem elevadas consequências sociais, económicas e a nível dos sistemas de saúde, para além de reflectir desigualdades significativas. Por exemplo, a noma é uma doença que destrói a boca e o rosto de crianças pequenas, sobretudo. Se não for tratada, em 90% dos casos o seu desfecho é fatal. A noma está principalmente presente na África Subsariana e é sinal de uma pobreza extrema.

Com base no resumo regional do Relatório Mundial da OMS sobre a Situação da Saúde Oral em 2022, entre as seis regiões da OMS, a nossa Região registou o maior aumento no número de grandes casos de doenças orais nos últimos 30 anos. A verdade é que existe um sub-investimento fundamental na saúde oral. Metade dos nossos países não dispõe de políticas de saúde oral. Em 2019, mais de 70% dos nossos países gastaram menos de 1 dólar americano por pessoa por ano em custos de tratamento para cuidados de saúde oral. Além disso, enfrentamos uma falta crónica de pessoal da saúde oral. Por exemplo, o número de dentistas por cada 10 000 habitantes na Região equivale a um décimo do rácio mundial.

Para ultrapassar estas dificuldades, os países, a OMS e os parceiros devem unir-se, acompanhar e implementar as estratégias regionais e mundiais em matéria de saúde oral que orientam os países na sua abordagem das doenças orais no âmbito da prevenção e do controlo das doenças não transmissíveis, com vista à consecução da cobertura universal de saúde. As doenças orais podem ser prevenidas se enfrentarmos os factores de risco comuns, como o consumo de tabaco e de álcool, e uma dieta não saudável acompanhada de outras doenças não transmissíveis, como a diabetes e os cancros. Além disso, as pessoas deveriam ter direito a acesso a cuidados de saúde oral essenciais e de qualidade que respondam às suas necessidades sem passar por dificuldades financeiras.

Nesse sentido, nós na OMS prestamos apoio a vários países no desenvolvimento e implementação de estratégias de saúde oral. Por exemplo, em 2022, ajudámos Cabo Verde, o Quénia, o Maláui, a Maurícia e o Senegal a lançar e implementar políticas nacionais de saúde oral. Fizemos o mesmo com a Argélia, o Botsuana e o Lesoto. Para fazer face à escassa força de trabalho da saúde oral em resposta às necessidades da população, estamos a desenvolver um curso de formação online, em parceria com a Universidade de Harvard, para que os agentes comunitários de saúde facilitem a partilha de tarefas de intervenções de saúde oral entre profissionais de saúde oral e outros profissionais de saúde. 

Apoiámos onze países na elaboração, implementação e monitorização de um programa nacional integrado de controlo da noma, financiado pela organização não-governamental alemã, Hilfsaktion Noma e.V. Em Julho de 2022, lançámos com sucesso o curso de formação online sobre noma destinado aos profissionais de cuidados de saúde primários. Cerca de 3600 pessoas inscreveram neste curso para se inteirar desta doença grave, reforçar as suas capacidades em prevenção e controlo da noma e, acreditamos, utilizar esses conhecimentos e competências em detecção e tratamento precoces a nível dos cuidados de saúde primários. 

Foram registados alguns progressos em colaboração com os países e os parceiros, como consta em experiências passadas. No entanto, os progressos poderão ser mais rápidos se queremos alcançar a visão mundial da cobertura universal de saúde para a saúde oral para todos até 2030.

Aproveitando as orientações estratégicas vigentes, bem como as oportunidades de sensibilização, exorto aos Ministros da saúde a: 
   1.  priorizar a saúde oral no âmbito dos programas de luta contra as doenças não transmissíveis e da consecução da cobertura universal de saúde e aumentar o compromisso político e financeiro;
   2. proceder a uma mudança de paradigma dos cuidados de saúde oral orientados para o tratamento de abordagens muito mais preventivas e promocionais, com o objectivo de combater as desigualdades na saúde oral;
   3.  integrar a saúde oral nos sistemas de saúde, incluindo por exemplo os cuidados de saúde oral no pacote de prestações de saúde que visam a consecução da cobertura universal de saúde, a partilha de tarefas de cuidados de saúde oral com outros profissionais de saúde e a recolha de informação sobre saúde oral através do sistema de vigilância actual; e
  4. mobilizar, envolver e capacitar as comunidades para que as populações tenham um maior controlo sobre a sua saúde oral e geral, e possam melhorá-la.

Além disso, as organizações não-governamentais, a sociedade civil e o sector privado devem defender e apoiar os esforços dos governos na implementação de estratégias de saúde oral baseadas nas necessidades da população. 

Encorajo todos os indivíduos e comunidades a adoptar estilos de vida saudáveis e a manter uma dieta equilibrada, pobre em açúcares livres e rica em fruta e legumes; a privilegiar a água como bebida principal; a evitar o uso de todas as formas de tabaco; evitar o consumo excessivo e nocivo de álcool; e manter uma boa higiene oral lavando os dentes com pasta de dentes fluoretada duas vezes por dia. 

Neste Dia Mundial da Saúde Oral 2023, unamo-nos contra as doenças orais e tomemos medidas para que a população desfrute de uma melhor saúde oral, de uma melhor saúde e de uma melhor qualidade de vida.

Para saber mais:

Escritório Regional da OMS para a África (2016). Estratégia regional de saúde oral 2016 – 2025: combater as doenças orais no contexto das doenças não transmissíveis: Relatório do Secretariado (AFR/RC66/5). https://apps.who.int/iris/handle/10665/250994

Escritório Regional da OMS para a África (2016). Promoção da saúde oral em África: Prevenção e controlo das doenças orais e do noma como intervenções essenciais contra as doenças não transmissíveis. https://apps.who.int/iris/handle/10665/205886  ​

WHO Regional Office for Africa (2017). Information brochure for early detection and management of noma.

https://www.afro.who.int/publications/information-brochure-early-detection-and-management-noma

Escritório Regional da OMS para a África (2021). Colmatar as lacunas dos serviços de saúde oral em África. (apenas em inglês).

https://www.afro.who.int/news/filling-gaps-oral-health-services-africa

OpenWHO (2022). Noma: formação de profissionais de saúde a níveis nacional e distrital em doenças tropicais negligenciadas da pele. https://openwho.org/courses/DTNs-noma  

WHO (2022). Seguimento da declaração política da terceira reunião de alto nível da Assembleia Geral sobre prevenção e controlo de doenças não transmissíveis. Anexo 3: Projecto de estratégia mundial sobre a saúde oral. (apenas em inglês).

https://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/WHA75/A75_10Add1-en.pdf

WHO (2022). Global oral health status report: towards universal health coverage for oral health by 2030 (apenas em inglês). https://apps.who.int/iris/handle/10665/364538

WHO (2023). Draft Global Oral Health Action Plan (apenas em inglês). https://www.who.int/publications/m/item/draft-global-oral-health-action-plan-%29%29