Mensagem da Directora Regional da OMS para a África, Dr.ª Matshidiso Moeti
Em 1882, quando Robert Koch descobriu o Mycobacterium tuberculosis, o micróbio que causa a tuberculose, a doença provocou ondas de choque por todo o mundo. Transmitida por gotículas de espirros expelidas pela pessoa doente quando tosse ou fala, a tuberculose matou tanto os ricos como os pobres. No século seguinte, o ritmo de transmissão da tuberculose abrandou graças a administração de antibióticos e de uma vacina que protegia os bebés, e a campanhas vibrantes. A erradicação da tuberculose está ao nosso alcance.
Ano após ano, comemoramos o Dia Mundial da Tuberculose, a 24 de Março, para sensibilizar o público acerca das devastadoras consequências sanitárias, sociais e económicas desta doença evitável, e apelamos a uma acção acelerada para pôr fim a esta patologia. O tema deste ano é “Sim, podemos pôr fim à tuberculose”. Permite realçar a necessidade de garantir um acesso equitativo à prevenção e aos cuidados, em consonância com a nossa dinâmica para a consecução da Cobertura Universal de Saúde e dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.
Em 2021, seguindo um roteiro claro, a OMS na Região Africana demonstrou que é possível alcançar – e até ultrapassar – o primeiro marco da Estratégia para pôr fim à tuberculose (que tinha projectado uma redução de 20% até 2020), com uma taxa de declínio de 22% nas novas infecções desde 2015.
Graças ao nosso apoio técnico, à nossa principal iniciativa de sensibilização e a parcerias eficazes, registamos enormes progressos ao longo da última década, especialmente nas Regiões da África Oriental e Austral. Países com carga elevada da doença, como a África do Sul, a Etiópia, a Namíbia, o Lesoto, o Quénia, a Tanzânia e a Zâmbia, ultrapassaram ou atingiram a meta dos 20% de redução de novos casos de tuberculose.
A Região Africana da OMS encontra-se agora no limiar de alcançar uma redução de 35% nos óbitos por tuberculose: entre 2015 e 2021, registou-se uma redução de 26% nos óbitos por tuberculose. Sete países - Essuatíni, Moçambique, Quénia, Sudão do Sul, Togo, Uganda e Zâmbia - reduziram em 35% as mortes por tuberculose desde 2015.
Contudo, em toda a Região, os desafios na prevenção e controlo da tuberculose são significativos.
Em primeiro lugar, consta o atraso acusado no diagnóstico e nos testes. Ainda existe uma diferença notável entre o número estimado de novas infecções e a notificação de casos de tuberculose: Estima-se que 40% das pessoas que vivem com tuberculose não tinham conhecimento do seu diagnóstico ou não o tinham comunicado em 2021. Hoje, um milhão de pessoas vivem com a tuberculose na nossa região sem terem sido detectadas.
Em segundo lugar, verifica-se a correlação entre a tuberculose e o VIH. Cerca de 20% das pessoas recém-diagnosticadas com tuberculose também vivem com a infecção por VIH.
Em terceiro lugar, a é tuberculose multirresistente. Na Região Africana, apenas 26% das pessoas com farmacorresistência múltipla estão a receber o tratamento adequado.
Ainda assim, congratulo-me com o facto de os nossos Estados-Membros estarem a intensificar a adopção de novas ferramentas e orientações recomendadas pela OMS, o que resulta num acesso precoce à prevenção e cuidados da tuberculose, e em melhores resultados. Na Região Africana, o uso de testes de diagnóstico rápido aumentou de 34% em 2020 para 43% em 2021. Esta evolução irá melhorar a capacidade dos países para detectar e diagnosticar novos casos da doença.
É particularmente importante encontrar e diagnosticar casos de tuberculose para que os doentes possam ser tratados, e que os seus contactos possam receber medicação preventiva. A Nigéria é o exemplo de um país que conseguiu aumentar significativamente a detecção nacional de casos de tuberculose de 50% em 2021, utilizando abordagens inovadoras, como a expansão dos protocolos de tratamento observados diariamente, o uso de tecnologias digitais, a procura activa de casos na comunidade e o recurso a iniciativas público-privadas mistas.
A erradicação da tuberculose exige uma acção concertada de todos os sectores: das comunidades e empresas aos governos, sociedade civil e outros.
Por esse motivo, devemos trabalhar em conjunto de forma a desenvolver abordagens inovadoras que cheguem às populações vulneráveis e garantir que as mesmas têm acesso a cuidados e tratamento de qualidade da tuberculose.
A segunda reunião de alto nível das Nações Unidas sobre a tuberculose, em Setembro de 2023, irá constituir uma oportunidade rara para dar visibilidade mundial à doença e mobilizar um compromisso político de alto nível para pôr fim à tuberculose.
Podemos pôr fim à tuberculose com a redução de número de óbitos, de casos da doença e com a eliminação dos encargos económicos e sociais que lhe estão associados.
Apelo, especialmente hoje, aos líderes, governos, parceiros, comunidades e a todas as partes interessadas a promoverem urgentemente sistemas de saúde resilientes necessários para acelerar a resposta na luta contra a tuberculose, de modo a que possamos alcançar as metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030.
Sim, podemos pôr fim à tuberculose no curso de uma vida.