Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África
Uma jovem ruandesa com um tumor do tamanho de uma couve-flor no rosto consultou um médico. A jovem foi uma das primeiras pacientes do médico. O pai da menina, um agricultor de subsistência, tinha experimentado várias soluções tradicionais, mas o tumor não parava de crescer, juntamente com as despesas. A família precisava de um oncologista. Finalmente, o médico chamou um que lhes deu conselhos sobre o tratamento que salvou a vida da jovem.
Juntamo-nos à comunidade internacional para comemorar o Dia Mundial de Luta contra o Cancro hoje, 4 de Fevereiro de 2023. O tema retido para este ano é “Colmatar as lacunas nos cuidados: Unir vozes por cuidados mais justos”. A campanha deste ano reúne as pessoas que partilham posições semelhantes a unirem-se à medida que construímos alianças mais fortes e novas colaborações inovadoras na luta contra o cancro.
O cancro é um problema de saúde pública de grande preocupação.
Os números são assustadores. Cerca de 1,1 milhões de novos casos de cancro ocorrem todos os anos em África, com cerca de 700 000 mortes. De acordo com as estimativas dos dados, a mortalidade por cancro aumentará consideravelmente para chegar a quase um milhão de mortes por ano até 2030, se não levarmos a cabo intervenções urgentes e ousadas.
Devemos recorder que os cancros mais comuns nos adultos incluem os cancros da mama (16,5%), do colo do útero (13,1%), da próstata (9,4%), do cólon e do fígado (4,6%), contribuindo para quase metade dos novos casos de cancro. Não obstante os desafios significativos em termos de dados, estima-se a incidência do cancro infantil na África Subsariana em 56,3 por milhão de habitantes. As projecções actuais mostram que quase 50% do fardo mundial do cancro infantil até 2050 será imputado à África, o que nos obriga a envidar esforços expeditos para enfrentar esta preocupação, tal como foi com o caso da jovem ruandesa.
Nesta perspectiva, é importante celebrar algumas das nossas realizações aos níveis regional e nacional.
Actualmente, doze países da Região possuem planos nacionais válidos de luta contra o cancro. Além disso, a OMS está a apoiar 11 outros países no desenvolvimento ou actualização dos seus Planos Nacionais de Controlo do Cancro, em sintonia com as iniciativas mundiais de luta contra o cancro, juntamente com a presença de estruturas de governação a nível nacional para implementar planos de luta contra o cancro.
Países como o Gana, o Senegal, a Zâmbia, entre outros, elaboraram Orientações Nacionais de Tratamento do Cancro Infantil. Vinte e cinco países elaboraram orientações e estão a utilizá-las na luta contra o cancro. A vontade política continua fundamental na melhoria do panorama do cancro. A inclusão de medicamentos oncológicos infantis no regime nacional de seguro de saúde no Gana e na Zâmbia é um bom exemplo. Esta acção estratégica contribuirá significativamente para um aumento a nível das taxas de sobrevivência das crianças com cancro nestes países.
Estamos a colaborar com a Childhood Cancer International para desenvolver e pilotar orientações de saúde mental e apoio psicossocial para crianças no Burquina Faso. É gratificante observer o aumento constante de 51% na introdução nacional da vacinação contra o Vírus do Papiloma Humano (VPH) por parte dos países da Região, embora a cobertura permaneça preocupante no limiar dos 21%. Actualmente, 16 países introduziram testes de rastreio de alto desempenho, conforme as recomendações da OMS, e planeiam reforçar o rastreio do cancro do colo do útero.
A introdução de bolsas em oncologia ginecológica para melhorar o acesso aos serviços de tratamento do cancro do colo do útero no Maláui e na Zâmbia é um projecto louvável e inovador. Colaborando estreitamente com o Centro Internacional de Investigação do Cancro (IARC) sobre registos oncológicos, conseguimos lançar três centros colaboradores na África do Sul, no Quénia e na Côte d’Ivoire. Estes centros irão facilitar o reforço das capacidades dos funcionários locais e melhorar a qualidade dos dados para um processo decisório eficaz.
Apesar destas conquistas, permanecem empecilhos no nosso caminho, nomeadamente: a baixa disponibilidade de registos oncológicos baseados na população; a promoção limitada da saúde; o acesso inadequado a serviços de prevenção primária e detecção precoce; e a escassez de unidades de diagnóstico que aumentam os atrasos no diagnóstico e no tratamento. Em África, apesar da grande procura, a prestação de cuidados paliativos é rara. A África dispõe apenas de 3% das unidades de tratamento oncológico no mundo, sendo que a radioterapia só se encontra disponível em 22 países da África Subsariana, o que contribui para taxas de sobrevivência muito fracas.
Unindo as nossas vozes às nossas acções, podemos lutar contra o cancro a nível individual e comunitário, escolhendo estilos de vida saudáveis, sendo vacinados e regularmente rastreados contra cancros evitáveis. Incumbe aos pais garantir que as suas filhas elegíveis são vacinadas contra o VPH.
Exorto os governos a elaborarem/actualizarem os seus planos nacionais de luta contra o cancro, fornecerem financiamento sustentável e investirem no registo oncológico. Convido os governos a incorporarem os cuidados oncológicos nos pacotes de benefícios essenciais e nos sistemas nacionais de seguro de saúde. É também fundamental garantir infra-estruturas adequadas para os recursos humanos, o rastreio, os meios de diagnóstico e o tratamento. É igualmente necessário alargar o uso da saúde digital e criar formações relevantes para a força de trabalho dedicada à luta contra o cancro.
Por fim, os sobreviventes do cancro podem utilizar as suas vozes para defender a causa de melhores serviços de luta contra o cancro. Como pessoas com experiência pessoal, devem estar envolvidas na concepção de serviços de oncologia a todos os níveis dos cuidados de saúde.
Vamos unir-nos contra o cancro e tomar medidas de forma a tornar a saúde universal para a prevenção, o tratamento e os cuidados relativos ao cancro uma realidade em África.
Saiba mais:
WHO and St. Jude to dramatically increase global access to childhood cancer medicines