Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África
Hoje, dia 4 de Fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) junta-se ao resto da comunidade internacional para comemorar o Dia Mundial do Cancro. O tema deste ano, “Colmatar as lacunas nos cuidados”, marca o início de uma campanha de três anos para sensibilizar o mundo inteiro acerca do cancro e dos seus impactos, especialmente nos nossos cidadãos mais vulneráveis.
Lançamos um apelo aos Estados-Membros da Região Africana para que façam os investimentos necessários para garantir que todos os nossos cidadãos, independentemente dos seus rendimentos ou localização geográfica, tenham acesso a cuidados oncológicos de qualidade.
Todos os anos, a África regista cerca de 1,1 milhões de novos casos de cancro, resultando em mais de 700 000 mortes. O cancro da mama, juntamente com os cancros do colo do útero, da próstata, do fígado e do cólon e do reto, representam quase metade dos novos casos registados todos os anos no continente.
As crianças também são afectadas de forma desigual. Das mais de 400 000 crianças diagnosticadas anualmente com cancro no mundo, cerca de 90% vivem em países de baixo e médio rendimentos. As taxas de sobrevivência estão muito baixas, situando-se nos 20% ou menos nos países africanos, quando comparado com mais de 80% nos países desenvolvidos.
É urgente redobrar esforços para diminuir o número de novos casos de cancro, uma vez que as projecções alarmantes indicam que as taxas de mortalidade por cancro em África irão aumentar exponencialmente nos próximos 20 anos, ultrapassando em 30% a média mundial.
A Região Africana enfrenta vários desafios comuns, incluindo a falta de sensibilização e educação, o acesso limitado aos serviços de prevenção primária e detecção precoce do cancro, juntamente com atrasos no diagnóstico e no tratamento. O acesso a cuidados paliativos e ao alívio da dor é também limitado.
As lacunas observadas são agravadas pela escassez de especialistas em oncologia médica e radiológica, patologia, física médica e outras áreas essenciais. A África dispõe apenas de 3% das unidades de tratamento oncológico no mundo, sendo que a radioterapia só se encontra disponível em 22 países da África Subsariana, o que contribui para as fracas taxas de sobrevivência.
Por forma a “colmatar as lacunas nos cuidados’’, a OMS está a levar a cabo uma série de iniciativas fundamentais em África. Graças a essas iniciativas, 45% dos nossos países introduziram programas nacionais de vacinação contra o vírus do papiloma humano para fazer face à ameaça do cancro do colo do útero. Programas nacionais de rastreio encontram-se agora operacionais em 72% dos países, 11 dos quais oferecem rastreio de alto desempenho.
Através da Iniciativa Mundial de Luta contra o Cancro Infantil, a Zâmbia, o Senegal e o Gana elaboraram orientações de tratamento específicas para cada um desses países, criaram registos pediátricos em meio hospitalar e melhoraram o acesso à quimioterapia. O Senegal iniciou o processo que consiste em integrar os cancros infantis no seu novo Plano Nacional de Luta contra o Cancro.
No ano passado, o Escritório Regional da OMS para a África estabeleceu uma parceria com o St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos, para lançar a inovadora Plataforma Mundial de Acesso a Medicamentos Contra o Cancro Infantil. Esta plataforma deverá ajudar significativamente a colmatar as lacunas nos cuidados oncológicos prestados às crianças no continente.
À medida que os países desenvolvem esforços para implementar cuidados universais de saúde, com o apoio da OMS, deve ser dada prioridade aos factores de risco do cancro. É igualmente fundamental um acesso equitativo a vacinas de importância vital, a implementação de programas robustos de rastreio e detecção precoce, combinados com uma força de trabalho qualificada e infra-estruturas e equipamento adequados.
Todos temos um papel a desempenhar, seja enquanto indivíduos, governos, parceiros e sociedade civil. Será necessário um esforço combinado e uma abordagem multissectorial para conseguir um acesso ininterrupto a terapias contra o cancro a um preço comportável, seguras e eficazes para todos.
Saiba mais:
Situação do cancro na Região Africana da OMS
Cobertura de vacinação contra o vírus do papiloma humano
WHO report on cancer: setting priorities, investing wisely and providing care for all (2020)