Progress report African region 21 - 2.11. Health service - PT
experiência com epidemias passadas mostra que as perturbações nos sistemas de saúde resultam num número significativo de mortes indirectas. Por exemplo, durante a epidemia de Ébola de 2014-2016 na África Ocidental, foram atribuídas mais mortes às lacunas nos serviços de combate ao paludismo, tuberculose (TB), VIH e saúde materno-infantil (SMI) do que por infecção pelo Ébola. Foram também observadas e previstas perturbações significativas nos serviços de saúde durante a actual pandemia. Para melhor compreender a extensão destas perturbações no início de 2021, a OMS lançou a segunda ronda do Inquérito Nacional para Tomar o Pulso sobre a continuidade dos serviços essenciais de saúde durante a pandemia. Os resultados deste inquérito revelaram que os serviços de saúde continuaram com perturbações em 37 países, mesmo quando o número de infecções pelo vírus estava a diminuir. O inquérito também forneceu informações vitais dos principais informadores do país sobre a extensão do impacto da pandemia de COVID-19 nos serviços essenciais de saúde, as razões para perturbações e que estratégias e abordagens foram adoptadas pelos países de forma contínua para manter a prestação de serviços.
Com base em vários níveis de implementação de medidas de intervenção não farmacêutica, a resposta precoce de África à pandemia da COVID-19 salvou vidas. Entretanto, as medidas que restringem o contacto social e a circulação de pessoas – algumas das quais tinham sido interrompidas no momento da elaboração deste relatório – bem como o receio de visitar os centros de saúde, afectaram consideravelmente os serviços de saúde no que toca às afecções não relacionadas com a COVID-19. Para além da reafectação de recursos, como pessoal de saúde e equipamento de diagnóstico para combater eficazmente a pandemia, a escassez de material médico decorrente de perturbações nas cadeias de abastecimento agravou ainda mais o impacto da COVID-19 no tratamento de outros problemas de saúde. Ao mesmo tempo em que se instalou a realidade de que a COVID-19 virá a ser uma situação prolongada, também ocorreram vários surtos de outras doenças, como o Ébola, a febre tifóide, a cólera e a peste pneumónica.
O maior impedimento a qualquer solução plausível para resolver a crise é a questão-chave da escassez crónica de pessoal qualificado em África. Por todo o continente, em qualquer momento, há falta de pessoal qualificado em pelo menos 60% dos hospitais. Em muitos países, os profissionais de saúde vivem num ciclo crónico de ‘correr contra o prejuízo’. A COVID-19 revelou o desafio e a necessidade de se alcançar a segurança sanitária no continente, face à dependência nos cuidados alternativos e na medicina tradicional como soluções para superar as deficiências e a falta de serviços de saúde.
“A Suécia continua empenhada em apoiar o sistema das Nações Unidas e a OMS para pôr fim a esta pandemia através de uma resposta bem coordenada, inovadora e eficaz à COVID-19 na Região Africana. Em particular, tem sido importante mitigar o impacto da resposta ao vírus nos serviços essenciais de saúde, incluindo os serviços de saúde sexual e reprodutiva. Através da orientação e da promoção do intercâmbio entre profissionais transversais sob directrizes de autocuidados, por exemplo, a OMS está a mostrar novas formas de desenvolver sistemas de saúde mais resistentes.”
Tanto a gestão de casos como as capacidades de cuidados intensivos receberam uma atenção reforçada durante o período em apreço. O Escritório Regional da OMS para a África vem seguindo uma estratégia concertada para preposicionar o abastecimento de oxigénio e desenvolver as capacidades de gestão dos casos e dos cuidados intensivos no tratamento da COVID-19. Para orientar parcialmente a resposta, um estudo realizado com os parceiros e concluído em Julho, o Estudo Africano de Resultados dos Cuidados Intensivos relativos à COVID-19 (ACCCOS), analisou os países em fase de ressurgimento.
Os factores virais também causam confusão na forma de tratar os doentes. É o caso da elevada incidência de transmissão da variante Delta. Entretanto, alguns países começaram a notificar a incidência de outras variantes, como a Alfa e a Beta.
Além das infra-estruturas e outros problemas de natureza genómica, a gestão de casos está profundamente associada ao comportamento do doente. Em muitos casos, os doentes chegam aos centros de saúde numa fase em que o tratamento se torna mais difícil. Embora seja uma prática regular em muitos contextos africanos, em que os doentes preferem consultar a medicina tradicional ou simplesmente não conseguem chegar a uma unidade de saúde devido a dificuldades para encontrar ou pagar o transporte, no caso da COVID-19 a negação, o medo e os equívocos em torno do vírus foram especificamente mencionados como condicionantes. Em alguns países, a elevada prevalência de comorbidades, como a diabetes e a hipertensão, tem sido também motivo para taxas de mortalidade relativamente elevadas. Por último, a adesão às vacinas foi referida como um forte factor que contribui para a continuação da incidência de casos graves do vírus.
idosos na Região Africana
Tendo em conta o peso da gravidade da COVID-19 nas comunidades vulneráveis, num estudo conduzido pela OMS-AFRO e finalizado em Maio sobre populações de idosos em África, o rápido envelhecimento das populações e a incidência associada de doenças não transmissíveis (DNT) deixou muitos países manifestamente mal preparados para responder directamente às necessidades dos idosos durante a pandemia. Não só os sistemas de saúde na maioria dos países não estavam preparados para a COVID-19, como a falta de recursos para os cuidados intensivos afectou os idosos, mais propensos a necessitar deste tipo de cuidados. As elevadas taxas de mortalidade têm sido difíceis de avaliar, dadas as baixas taxas de testagem, além da má qualidade dos dados. Neste sentido, é provável que o impacto da COVID-19 nos idosos tenha sido subestimado.
No plano económico, a COVID-19 também trouxe à tona várias questões importantes. Já vulneráveis à pobreza, em 22% dos países da OMS-AFRO, os idosos participam activamente no mercado de trabalho informal. No entanto, ficou clara a incapacidade de trabalhar dos idosos durante os confinamentos, impedindo- os de obter um rendimento, em virtude da necessidade de continuar o distanciamento físico, o que fez aumentar as taxas de pobreza e a insuficiência alimentar. Sem acesso à protecção social, a dependência nos jovens como fonte de segurança financeira também aumentou, constituindo um desafio particular devido às perturbações nas remessas internacionais, assim como à diminuição dos rendimentos das famílias mais jovens durante a pandemia.
Os hábitos culturais que caracterizam a interacção com os idosos ou os avós, e mesmo as tomadas de decisões regularmente atribuídas aos idosos sofreram uma mudança dramática. À medida que os serviços e as formas de interacção social se tornaram cada vez mais online, os idosos (muitos com acesso limitado à tecnologia) ficaram cada vez mais isolados e com maiores dificuldades em termos de acesso a recursos e serviços. Outro ingrediente essencial para uma velhice saudável - o contacto humano - sofreu um grande impacto e surgiram mais casos de abuso a idosos. Estes problemas apresentam implicações de longo prazo para a forma como os idosos são percepcionados e incluídos na vida económica e social, e para quaisquer esforços para “reconstruir melhor” depois da COVID-19. Nos países onde as redes para pessoas mais velhas são robustas ou onde os idosos têm acesso a outras redes de base comunitária, houve maior capacidade para chegar às pessoas idosas em termos de mensagens e disposições direccionadas e adequadas. Os idosos são também prioritários nas campanhas de vacinação, quando estas têm lugar, mas muitos até agora não puderam tomar a vacina. Agrava-se a situação dos idosos em virtude da morosidade das campanhas de vacinação, que ficaram para trás devido a desafios orçamentais e logísticos.
WHO / Dalia Lourenco