Mensagem da Dr.a Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África
Todos os anos, no dia 31 de Agosto, celebramos o Dia da Medicina Tradicional Africana e, este ano, iremos recordar os progressos realizados nos últimos 20 anos para reforçar a importância da medicina tradicional nos sistemas nacionais de saúde.
A medicina tradicional é usada há séculos para melhorar o bem-estar e continua a desempenhar um papel central nos cuidados de saúde. Inspira-se na rica e única biodiversidade de plantas aromáticas e medicinais do continente. É também uma indústria promissora que merece mais atenção por parte dos países africanos para ser exportada internacionalmente.
Durante a pandemia de COVID-19, a medicina tradicional africana tomou o centro das atenções com uma discussão generalizada sobre o COVID-organics, um tónico natural apresentado como um potencial remédio para o vírus da COVID-19. Foram rapidamente tomadas disposições para estudar este remédio que poderá ser produzido em grande escala, caso seja comprovada a sua eficácia.
A OMS e o CDC de África apoiaram este processo através do desenvolvimento de um protocolo de base para ensaios clínicos de medicamentos tradicionais para a COVID-19 e da criação de um Comité Consultivo Regional que reúne peritos de todo o continente para supervisionar o estudo do COVID-organics e de outros potenciais remédios.
Estas últimas iniciativas são fruto de duas décadas de acção levada a cabo para reforçar a visibilidade da medicina tradicional africana. Foram realizados enormes progressos, alguns dos quais partilharei aqui.
Quarenta países dispõem agora de políticas que regulam o uso de medicamentos tradicionais, contra oito países em 2000, e muitos integraram a medicina tradicional nas suas políticas nacionais de saúde e criaram quadros regulamentares para os praticantes de medicina tradicional. As instituições académicas de 24 países oferecem actualmente cursos de medicina tradicional a estudantes de farmácia e medicina. Em 17 países, são criadas vias de encaminhamento entre os praticantes de medicina tradicional e convencional, e oito países estão a reforçar a prestação integrada de serviços de medicina convencional e tradicional. No Gana, a disponibilidade de serviços integrados duplicou, passando de 19 unidades que oferecem estes serviços em 2012 para 40 em 2020.
A África do Sul, o Gana e o Mali criaram um seguro de saúde parcial para produtos e serviços de medicina tradicional, protegendo assim as pessoas de dificuldades financeiras em conformidade com as medidas levadas a cabo para alcançar a cobertura universal de saúde.
Existem agora mais de 34 institutos de investigação dedicados à medicina tradicional africana. Em 15 países, o financiamento público é alocado regularmente à investigação em medicina tradicional. Foram emitidas quase 90 autorizações de comercialização nacional de medicamentos à base de plantas, e mais de 40 dessas autorizações estão incluídas nas listas nacionais de medicamentos essenciais. O cultivo em larga escala de plantas medicinais também está a aumentar, juntamente com a produção local de medicamentos à base de plantas.
Estas realizações demonstram os progressos significativos alcançados na regulamentação e promoção da medicina tradicional africana. Para tirar partido dos progressos alcançados, são necessários mais dados sobre a segurança, eficácia e qualidade das preparações tradicionais à base de plantas, bem como uma aplicação mais estrita dos quadros regulamentares e a utilização de plataformas mais avançadas para partilhar e salvaguardar o saber da medicina tradicional para as gerações futuras. As alterações climáticas ameaçam a biodiversidade da África, logo a medicina tradicional também, pelo que devem ser tomadas medidas de mitigação.
Reconhecendo a necessidade de acções adicionais, gostaria de juntar a minha voz ao apelo lançado para a Terceira Década da Medicina Tradicional Africana, e ajudar assim a garantir que o potencial da medicina tradicional africana é plenamente explorado.
Exorto os governos, as instituições académicas e de investigação, os praticantes de medicina tradicional e convencional e o sector privado a reforçarem a colaboração. Ao trabalharem em conjunto, as partes interessadas poderão melhorar o acesso a medicamentos tradicionais de qualidade fornecidos por equipas de cuidados de saúde integradas nos sistemas nacionais de saúde.
Tenho como ambição pessoal que a medicina tradicional africana seja mais plenamente reconhecida internacionalmente. Aproveito, por fim, para reiterar o compromisso assumido pela OMS na promoção de medicamentos tradicionais seguros e eficazes para um melhor bem-estar.
Saiba mais:
- Reforçar o papel da medicina tradicional nos sistemas de saúde: estratégia para a Região Africana (2013–2023) (Documento AFR/RC63/6).
- Plan of action on the AU Decade of Traditional Medicine (2001–2010): implementation of the decision of the Lusaka summit of Heads of state and government (AHG/DEC.164 (XXXVII).
- WHO Global Report on Traditional and Complementary Medicine, 2019.
- Launch of the Regional Executive Advisory Committee on African Traditional Medicine – remarks by the WHO Regional Director for Africa, 22 July 2020.
- Guidelines on registration of traditional medicines, WHO, 2004 updated in 2010.
- OMS apoia medicina tradicional comprovada cientificamente.
- Kasilo OMJ et at. Towards universal health coverage: advancing the development and use of traditional medicines in Africa. BMJ Global Health. 2019; 4(Suppl 9): e001517.