Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África
A resistência aos antimicrobianos mais utilizados, incluindo os antibióticos, é um desafio sanitário mundial que representa graves riscos para o público.
A resistência aos antimicrobianos (RAM) ocorre quando os germes causadores de doenças deixam de responder aos medicamentos antimicrobianos frequentemente prescritos. Põe em risco a nossa capacidade de tratar infecções comuns, aumenta o custo dos tratamentos e perturba os progressos que realizámos no combate às doenças, representando um grave desafio para as nossas comunidades, sistemas de saúde e economias.
Todos os anos, a comunidade internacional observa a Semana Mundial de Sensibilização para o Uso Consciente de Antimicrobianos, de 18 a 24 de Novembro, que apela à sensibilização para os riscos resultantes do uso inadequado de medicamentos antimicrobianos em seres humanos, animais e cultivos, e ao seu uso responsável, para reduzir o aparecimento e a propagação da RAM.
O tema deste ano, “Todos juntos para prevenir a resistência aos antimicrobianos”, apela a uma acção multissectorial urgente no contexto da abordagem “Uma Só Saúde”, para preservar a eficácia dos medicamentos antimicrobianos.
As infecções resistentes aos antimicrobianos causaram 1,27 milhões de mortes em todo o mundo em 2019, mais do que o VIH/SIDA e o paludismo combinados. Os países da África Subsariana suportam o fardo mais elevado de taxas de mortalidade associadas à RAM, com 99 mortes por 100 000 pessoas.
Precisamos de tomar medidas urgentes e abordar as principais causas da RAM, que incluem o uso indevido e abusivo de medicamentos antimicrobianos, a falta de acesso a água potável, saneamento e higiene; as práticas deficientes de prevenção e controlo de infecções; o uso inadequado de vacinas para reduzir as infecções; a capacidade laboratorial inadequada, incluindo o equipamento e os reagentes, que permitiriam determinar o tratamento adequado; as práticas deficientes de eliminação de resíduos; e a presença de antimicrobianos na produção alimentar e animal e na protecção dos cultivos, assim como no ambiente e nas massas de água.
Graças a uma forte colaboração com os parceiros quadripartidos (FAO, OMSA e PNUA), reforçámos a governação para combater a RAM na Região Africana da OMS. Actualmente, 46 países elaboraram e orçamentaram planos de acção nacionais que incluem uma estratégia por eles aprovada. Doze países reforçaram a sua capacidade de abordagem multissectorial da implementação dos planos de Acção Nacional Uma Só Saúde, para um maior impacto.
A capacidade para gerar dados factuais e comprovar o fardo, orientar a mobilização de recursos e exigir compromissos políticos é relevante. Actualmente, 38 dos nossos Estados-Membros aderiram aos sistemas mundiais de vigilância da resistência aos antimicrobianos (RAM); os dados factuais daí resultantes contribuíram para a tomada de decisões e à alteração de políticas em 17 países. No Gana, a vigilância integrada ao abrigo da abordagem “Uma Só Saúde” evidenciou a inter-relação com as bactérias resistentes que se propagam do ambiente para a cadeia alimentar e causam infecções humanas, e inversamente.
Estão em curso esforços para optimizar a utilização de antimicrobianos nas nossas unidades de saúde através de programas integrados de gestão de antimicrobianos (AMS). Foi utilizado um conjunto regional de materiais de formação padrão sobre AMS, desenvolvido e testado na República Democrática do Congo, no Gana, na Nigéria e na Zâmbia, para formar equipas multidisciplinares de mais de 70 profissionais de saúde destes quatro países, na implementação de programas práticos, economicamente vantajosos e sustentáveis de gestão de antimicrobianos nas unidades de saúde.
Continuamos a mobilizar os jovens para que se juntem aos nossos esforços. Formámos mais de 899 jovens embaixadores na Nigéria, que estão agora preparados para servir de sensibilizadores contra a ameaça colocada pela RAM nas suas comunidades.
Por ocasião da Semana Mundial de Sensibilização para o Uso Consciente de Antimicrobianos 2023, o Escritório Regional da OMS para a África junta-se à FAO, ao PNUA, ao CDC de África, à Organização Mundial da Saúde Animal e ao Escritório Interafricano para os Recursos Animais da União Africana num apelo continental a uma maior sensibilização política, que realce a gravidade da ameaça da RAM.
Em conformidade com a estratégia regional para alargar a implementação e a monitorização dos planos de acção nacionais contra a RAM, gostaria de aproveitar esta oportunidade para reiterar o “apelo à acção” que dirigimos aos nossos Estados-Membros:
- Aumentar e manter o financiamento interno para implementar os Planos de Acção Nacionais contra a RAM centrados na prevenção e controlo de infecções, na água potável, no saneamento e na higiene nas nossas comunidades, assim como na criação de mecanismos multissectoriais de coordenação para combater os riscos.
- Apoiar a construção de sistemas de saúde resilientes, mantendo o equilíbrio fundamental entre a resposta à RAM e a manutenção do acesso aos medicamentos vitais;
- Reforçar a vigilância e a capacidade laboratorial para a detecção, prevenção e resposta à RAM através das estratégias, políticas e directrizes mundiais e regionais existentes.
- Garantir a realização de campanhas de sensibilização a nível nacional sobre RAM, envolvendo vários sectores, para promover o reforço das capacidades dos profissionais em matéria de RAM e a mudança de comportamento dos profissionais de saúde e das comunidades.
- Reforçar a colaboração entre as partes interessadas, que é fundamental para o sucesso no combate à RAM. Os países africanos devem unir-se para implementar planos de acção nacionais personalizados, partilhar as melhores práticas e coordenar esforços para reforçar a gestão de antimicrobianos. Temos de colaborar com os parceiros internacionais, as organizações da sociedade civil e o sector privado para tirar proveito de recursos, conhecimentos e competências.
Todos temos um papel na contenção desta ameaça mundial, melhorando o nosso comportamento de procura de cuidados de saúde, procurando aconselhamento profissional em caso de doença, e garantindo que todos os tratamentos prescritos são levados até ao fim.
Aproveitemos esta oportunidade, durante a Semana Mundial de Sensibilização para o Uso Consciente de Antimicrobianos, para reafirmar o nosso compromisso de abordarmos todos juntos a RAM.
Saiba mais:
- Semana Mundial de Sensibilização para o Uso Consciente de Antimicrobianos
- O Zimbabué reforça a sua capacidade de gestão de dados sobre a vigilância da resistência aos antimicrobianos (RAM)
- Prioridades Estratégicas da OMS sobre a Resistência aos Antimicrobianos
- OMS: Resistir à RAM
- WHO and Partners Support AMR Scientific Meeting
- WHO supports introduction to antibiotic stewardship in three hospitals
- Stronger governance needed to fight superbugs in Africa: Antimicrobial Resistance threatens Africa’s development
- Nigeria bolsters laboratory capacity for antimicrobial resistance towards Universal Health Coverage
- Regional strategy for expending the implementation and monitoring of national action plans on antimicrobial resistance, 2023-2030 in the WHO African region (AFR/RC73/6).
- UPSALA JOURNAL OF MEDICAL SCIENCES, 2016 VOL. 121, N.º 3, 159–164 http://dx.doi.org/10.1080/03009734.2016.1195900 Tackling drug-resistant infections globally: Final report and recommendations