Dia Mundial contra a Hepatite, 28 de Julho de 2021

Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África
 
No dia 28 de Julho, a OMS celebra o Dia Mundial contra a Hepatite com o intuito de reforçar a sensibilização para esta doença, que provoca uma inflamação do fígado e pode progredir para cancro do fígado e cirrose.  

O tema retido para este ano é “A hepatite não pode esperar”. Esta edição apela a que todos os países melhorem rapidamente o acesso aos serviços de prevenção, diagnóstico e tratamento da hepatite.

Em África, a hepatite é uma epidemia silenciosa. Mais de 90 milhões de pessoas vivem com hepatite na Região, o que representa 26% do total da população mundial. Mais de 124 000 africanos morrem todos os anos por causa de hepatites não detectadas e não tratadas. 

Cerca de 4,5 milhões de crianças africanas com menos de cinco anos sofrem de uma infecção crónica causada pelo vírus da hepatite B, o que representa 70% da carga mundial nesta faixa etária. A meta mundial de menos de 1% de incidência da hepatite B em crianças abaixo dos cinco anos foi atingida, mas a Região Africana está a ficar para trás com uma incidência de 2,5%. 

A maioria desses casos poderia ser prevenida pela eliminação da transmissão vertical da doença, durante ou logo após o nascimento e na primeira infância. As principais intervenções contra a hepatite B incluem a vacinação à nascença e na primeira infância, o rastreio das mulheres grávidas e a prestação de um tratamento em tempo oportuno. 

Por isso, na Região Africana da OMS, estamos sobretudo a insistir que “as mães não podem esperar”. 
Estamos a incentivar os países a integrarem a prevenção da transmissão vertical da Hepatite B no conjunto de cuidados pré-natais, juntamente com o programa de prevenção da transmissão vertical do VIH e da sífilis.

No entanto, apenas 14 países da Região estão a administrar a vacina contra a hepatite B à nascença. Entre as pessoas infectadas, 9 em cada 10 nunca foram testadas devido à falta de sensibilização e acesso aos testes e tratamento. Mesmo entre os países que oferecem a vacina contra a hepatite B à nascença, os sistemas de saúde enfrentam grandes desafios para garantir que as mulheres grávidas e as mães são testadas e devidamente tratadas quando o resultado é positivo.

Ao mesmo tempo, foram realizados muitos desenvolvimentos promissores sobre a hepatite. Com o lançamento da primeira estratégia mundial sobre a hepatite em 2016, que foi acompanhada por campanhas de sensibilização ao longo dos últimos anos, a vontade política começou a traduzir-se em acções. Os medicamentos para a hepatite tornaram-se muito mais comportáveis, com preços que chegam a atingir os 60 dólares americanos por doente para um tratamento de 12 semanas. 

Foi com base nesta vantagem que os Chefes de Estado africanos assumiram o compromisso de erradicar a hepatite viral enquanto ameaça de saúde pública na Declaração do Cairo, adoptada em Fevereiro de 2020. O Egipto anunciou neste sentido a criação de uma iniciativa que prevê o fornecimento de um tratamento para a hepatite C a um milhão de africanos. Até à data, esta iniciativa permitiu tratar mais de 50 000 pessoas no Sudão do Sul, na Eritreia e no Chade. 

Alguns países, como o Ruanda, o Uganda e o Benim, criaram programas gratuitos de rastreio e tratamento da hepatite, enquanto outros iniciaram projectos-piloto nessa direcção. 

Por forma a orientar as acções levadas a cabo na luta contra a hepatite, 28 países africanos implementaram planos estratégicos e, no ano passado, a OMS lançou a nível mundial orientações sobre a prevenção da transmissão vertical da hepatite B.

O Escritório Regional da OMS para a África está a elaborar materiais de formação para facilitar a implementação das cinco principais intervenções contra a hepatite por parte dos países, bem com a descentralização dos seus serviços de diagnóstico e tratamento. 

O objectivo da Organização a longo prazo é integrar as intervenções contra a hepatite B nos serviços de cuidados pré-natais. Queremos também reforçar a nossa colaboração com parceiros importantes, como a Organização das Primeiras-Damas Africanas para o Desenvolvimento, que tem defendido os progressos realizados para ter uma geração livre do VIH. Com a integração de intervenções contra a hepatite nos programas de saúde, seria possível intensificar rapidamente as acções.

É com isto em mente que, neste Dia Mundial contra a Hepatite, exorto todas as partes interessadas do sector da saúde materno-infantil a reflectirem sobre uma forma eficaz de integrar o combate à hepatite nas iniciativas existentes, à semelhança da iniciativa “Free to Shine” lançada pela Organização das Primeiras-Damas Africanas, que colabora com os países para que um dia haja uma geração livre da SIDA em África. 

Os sistemas de saúde também desempenham um papel essencial na prevenção da transmissão, uma vez que supervisionam a selecção das dádivas de sangue e o uso adequado das seringas, que devem ser descartadas com segurança após utilização. Por fim, gostaria de encorajar as pessoas a fazer o rastreio da hepatite e a submeter-se ao tratamento caso o resultado seja positivo, bem como a obter mais informações sobre esta doença, de modo a acabar com esta epidemia silenciosa.

Saiba mais:

Global progress report on HIV, viral hepatitis and sexually transmitted infections, 2021

Prevention of mother-to-child transmission of hepatitis B virus: Guidelines on antiviral prophylaxis in pregnancy (WHO, 27 July 2020)